Por Marina Feltrin Dambros
Demorou mas não falhou: os noticiários mundiais estão todos voltados para a Turquia. O motivo? Cidadãos turcos manifestando sua indignação à destruição de um dos parques mais belos da cidade de Istanbul para a construção de um shopping center. Vale lembrar que quase todos os bairros do município são contemplados com uma dessas edificações de serviço e comércio. Em nome do desenvolvimento urbano de Istanbul, estão sendo realizadas inúmeras construções de mudança expressiva na perspectiva dessa cidade turística e o parque estaria em cheque.
O que me chama atenção não são os protestos a favor do parque Taksim Gezi, não é em relação ao centro comercial. É pela coragem e pela força política que a sociedade civil turquesa vem demonstrando nesses últimos dias. Algo que vai tomando proporções cada vez maiores, ganhando ativistas no mundo inteiro a cada dia, a cada spray de gás lacrimogêneo solto contra os cidadãos que exercem seu direito de expressão.
A voz dos protestos começa a tomar proporções maiores quando se voltam contra o atual Governo. Acusam o premier de autoritário e conservador. Em contrapartida, o primeiro ministro acusa a oposição de manipulação do manifesto e dos cidadãos. Enquanto isso, a sociedade civil está em meio a essa guerra política e no aguardo inquieto por providências.
Durante esses dias de protesto que iniciaram no dia 28 de maio, provavelmente, – com a “moça do vestido vermelho” – denotam a compaixão das pessoas, da demonstração de que há esperança quando 40 mil manifestantes fecham a ponte que liga a Ásia à Europa, quando hospitais improvisados para amparar os cidadãos feridos em protesto são providenciados. Acredito que isso tudo tenha que ver com o ser humano, com a nossa necessidade de se expressar e de lutar contra o que acreditamos estar errado. É simples, é lógico, mas é raro! Agora, cruzando os mares até a América do Sul, gostaria que voltássemos nossos olhares para o Brasil. E quanto a nós, como estamos? São milhões de vozes indignadas e solitárias, soltas e desenredadas. É um canto uníssono, mas descompassado. Um panelaço é fácil de fazer. Uma convocação geral também. Mas qual é a dificuldade de tomar o próximo passo?
Claro, se eu soubesse a resposta a traria à tona. Porém, tenho uma suposta solução. Penso que é necessário o despertar individual de coletividade. O senso crítico e de ação vem de dentro, do nosso entendimento de sujeito de direitos. Você sabe dos seus direitos? Imagine só se todos os brasileiros consentissem em trabalhar para uma melhor perspectiva de gestão pública e do uso de nossos recursos públicos. Para que isso seja possível, é necessário munir-se de informação pública para fomentar as ações de fortalecimento coletivo. Quer dizer, promover a cidadania é pensar ‘fora da caixa’ e compreender que o país foi concebido em meio a contradições.
Atualmente o acesso à informação pública esta estabelecendo uma nova concepção de participação democrática. Todavia, de nada adianta termos todos os dados do governo se não soubermos utilizá-los. É preciso analisar minuciosamente a informação para transformá-la em argumento e embasamento para a transformação política. Vejo aí uma oportunidade ímpar de mostrar que tipo de brasileiro somos. Indignados conformados ou agentes políticos transformadores? É simples, é lógico, mas é raro! Fica, pois, lançado o desafio primaveral.
Marina Feltrin Dambros é Trainne do Instituto Pvblica, formada em Administração Pública pela UDESC/ESAG, estudante de Serviço Social na UFSC e representante brasileira da Red Vanguardia Iberoamericana.