Coprodução de serviços públicos como estratégia de implementação do novo serviço público

* Por Nadia Garlet

Para entender porque a coprodução é uma estratégia para a implementação do novo serviço público é preciso, antes, saber como cada um dos dois funciona ou se propõe a funcionar. Para que exista coprodução de serviços públicos, é necessário o envolvimento dos cidadãos/usuários de um serviço específico e do ofertante daquele serviço, ou seja, todos os envolvidos com aquele bem/serviço devem participar ativamente da decisão de como vai ser ofertado/entregue e também na entrega propriamente dita (Verschuere, Brandsen & Pestoff, 2012)

Esse processo envolve uma participação ativa de todos, especialmente daqueles que se beneficiarão do serviço, porque a coprodução não é feita somente para os outros, mas principalmente para atender a uma necessidade sentida pelo cidadão. Este se mobiliza e se articula com outros cidadãos e com servidores públicos para encontrar uma solução.

A coprodução necessita, portanto, do engajamento de ambas as partes (cidadãos e ofertantes regulares do serviço) e esse engajamento se mantém no tempo, principalmente quando há resultados dessa coprodução e esses resultados são percebidos pelos envolvidos. Por essas características é que se pode afirmar que a coprodução é uma estratégia para a implementação do novo serviço público, modelo de administração pública que tem como foco servir ao interesse público.

Outras características do novo serviço público também nos permitem relacioná-lo à coprodução, tais como os conceitos que o fundamentam: diálogo, cidadania, participação e envolvimento. Outros pontos importantes dizem respeito às raízes do novo serviço público (Denhadt e Denhardt, 2003), que envolvem a cidadania democrática, com o senso de pertencimento e o engajamento em prol do bem comum; o senso de comunidade; o humanismo organizacional, que estimula o desenvolvimento das pessoas; e o pós-modernismo, que permite ao Estado ter mais de uma solução para o mesmo problema, ou seja, adaptar a sua atuação conforme o contexto em questão. Este último ponto, relacionado à solução adaptada ao contexto, está diretamente relacionado à coprodução, que também trabalha com soluções locais que atendam especificamente a uma necessidade.

O novo serviço público torna-se viável por meio da coprodução, pois esta implica um trabalho cooperativo realizado pelos vários atores envolvidos (públicos, privados e organizações da sociedade civil e cidadãos/usuários), além de sua motivação que é a contribuição com a sociedade, o fortalecimento da cidadania.

Compreendendo os dois – coprodução e novo serviço público – pode-se dizer que a coprodução dos serviços públicos é um elemento fundamental para garantir, embora não sozinha, a implementação do novo serviço público. No entanto, mesmo sendo um modelo com ideais consistentes, ainda carece de estudos relacionados, principalmente, à accountability, já que haverá mais de um ator envolvido na produção e a principal questão a ser respondida é quem controla quem e para quem se faz a accountability, desafio também presente na coprodução.


*Nadia Garlet é graduada em relações pública e em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria e mestranda em administração na Universidade do Estado de Santa Catarina, Udesc/Esag. É relações públicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. No primeiro semestre de 2014, cursou a disciplina Coprodução do Bem Público, do Mestrado em Administração da Udesc/Esag, na qual desenvolveu este texto.
Referências sobre coprodução e novo serviço público:

BRUDNEY, J. L.; ENGLAND, R. E. Toward a definition of the coproduction concept. Public Administration Review. 43 (1), 59-65, 1983.

DENHARDT, Jane Vinzant; DENHARDT, Robert B. The New Public Service: Serving, not Steering. New York: M.E.Sharpe, 2003.

VERSCHUERE, Bram; BRANDSEN, Taco; PESTOFF, Victor. Co-production: The State of the Art in Research and the Future Agenda. Voluntas, 23(4):1083, 2012.DOI 10.1007/s11266-012-9307-8

WHITAKER, G. Co-production: Citizen Participation in service delivery.  Public Administration Review. p.240-246, may/jun. 1980.

Para saber mais sobre accountability:

ROCHA, Arlindo Carvalho. Accountability na administração pública: modelos teóricos e abordagens. Contabilidade, Gestão e Governança. Brasília, v. 14, n. 2, p. 82-97, mai./ago. 2011. Disponível em http://www.cgg-amg.unb.br/index.php/contabil/article/view/314/pdf_162

ABRUCIO, Fernando Luiz; LOUREIRO, Maria Rita. Finanças públicas, democracia e accountability. In: ARVATE, Paulo Roberto; BIDERMAN, Ciro. Economia do Setor Público no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2005.

KOPPELL, Jonathan. Pathologies of accountability: ICANN and the challenge of “multiple accountability disorder”. Public Administration Review, v. 65, n. 1, pgs. 94-108, jan 2005.

Um comentário em “Coprodução de serviços públicos como estratégia de implementação do novo serviço público”

  1. Prezados, fiquei feliz de encontrar este blog pois também acredito no potencial da coprodução para melhoria de serviços públicos.
    No Reino Unido, onde trabalhei, percebo que o movimento de coprodução avança, ainda que lentamente, devido a pressões orçamentárias. Isto é: compartilha-se com cidadãos e terceiro setor a responsabilidade pela prestação de serviços anteriormente exclusivos do Estado. Vocês notam este movimento no Brasil?

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