Centenário de nascimento de Alberto Guerreiro Ramos

No ano em que comemoraria 100 anos, Alberto Guerreiro Ramos (1915-1982) recebe homenagens por todo o país.
Guerreiro Ramos é reconhecidamente um dos principais teóricos do pensamento social do século XX no Brasil. Seus trabalhos contribuíram significativamente para os campos da sociologia, administração e antropologia, em especial e de modo pioneiro e original sobre os estudos de relações raciais. 
Guerreiro Ramos formou-se em 1942 em Ciências na Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro. No ano seguinte formou-se também pela Faculdade de Direito. Foi professor por seis anos no Departamento Nacional da Criança a partir de 1944, de onde conquistou projeção internacional por suas publicações. A partir de 1949 atuou em várias frentes: tornou-se ativista do Teatro Experimental Negro, assessorou o presidente Getúlio Vargas em seu segundo mandato, participou dos grupos que fundaram a Escola Brasileira de Administração Pública e do Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (IBESP) e do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), onde foi diretor até 1958. Em 1961, Guerreiro Ramos participou da Comissão de Assuntos Econômicos junto à Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1962 elegeu-se suplente a deputado federal pelo Estado da Guanabara, assumindo a cadeira entre agosto de 1963 e abril de 1964, quando foi cassado pelo Ato Institucional n. 1.
No exílio, Guerreiro Ramos lecionou na Universidade do Sul da Califórnia, na Yale University e na Wesleyan University. Quando retornou ao Brasil, após a anistia, ministrou cursos como professor visitante, entre outros, na Universidade Federal de Santa Catarina, particularmente no Programa de Pós-Graduação em Administração, e na Escola Brasileira de Administração Pública da FGV.
Faleceu em 1982, aos 67 anos, nos Estados Unidos.
2015: o ano do centenário
O Departamento de Antropologia e Sociologia e Núcleo de Estudos de Identidades e Relações Interétnicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) promoveu o Seminário em comemoração ao centenário do nascimento do sociólogo e político brasileiro e professor da UFSC, no dia 11 de setembro, no auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação em Santa Catarina (Fapesc). O evento convocou especialistas da UFSC, da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), do Brasil e dos Estados Unidos para debater e homenagear o intelectual. O propósito foi aprofundar o debate em torno de seu legado, revisitando sua biografia e sua vasta obra, e resgatar a memória de sua atuação em Santa Catarina. Uma das palestras proferidas foi com o tema Administração Pública e modernização, com a participação dos professores Francisco Gabriel Heidemann, prof. AP. Administração UFSC e UDESC, José Francisco Salm, prof. AP. administração da UDESC e atualmente na Uninter, e Ariston Azevedo Mendes, prof. Administração da UFRGS.
O Conselho Universitário da UFSC concedeu o título de doutor honoris causa em caráter póstumo ao sociólogo Alberto Guerreiro Ramos.
No dia 10 de setembro, em celebração ao centenário, a Fundação Getulio Vargas (FGV e a University of Southern California (USC) realizaram o Seminário “Pioneirismo e Atualidade na Obra de Alberto Guerreiro Ramos”, que reuniu estudiosos do Pensamento Social Brasileiro que têm seu legado como fonte inspiradora para contemporaneidade política, sociológica e pública. 
O evento teve duas mesas principais de debate, nas quais foram tratadas as temáticas da Sociologia, Periferia e Teoria Pós-Colonial e Teoria Crítica e Política Econômica. O resgate e a discussão, à luz da intelectualidade guerreirista, refletiu sobre a premência no entendimento dos fatos e dos fenômenos correntes. Contou com a participação especial do ex-ministro e professor da FGV/EESP, Luiz Carlos Bresser Pereira.
Por fim, o Cadernos EBAPE.BR, periódico online com foco na área de Administração, patrocinado pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, lançou a Edição Especial (2015) – O centenário de Guerreiro Ramos com editorial de Fernando Tenório e artigos de João Marcelo E. Maia, Gaylord George Candler, Marcos Chor Maio, Américo Freire e osé Francisco Salm.

Oficina sobre financiamento coletivo para ONGs acontece no dia 17 de Setembro em Florianópolis

Excelente oportunidade para que as organizações da região de Florianópolis conheçam mais sobre o Crowdfunding, estratégia de mobilização de recursos em voga atualmente.

Uma iniciativa da Juntos.com.vc, em parceria com a GlobalGiving.org, com apoio da ABCR e do ICom – Instituto Comunitário Grande Florianópolis.

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Você está convidado para uma oficina sobre Mobilização de Recursos para ONGs emFlorianópolis

A Juntos.com.vc, em parceria com GlobalGiving.org, está proporcionando uma oficina sobre financiamento coletivo para ONGs. Este workshop é para qualquer organização social que queira aprender os componentes essenciais de uma campanha de crowdfunding. Vamos explorar técnicas eficazes para construir uma estratégia de campanha para expandir a rede de doadores pessoas físicas nos Estados Unidos e no Brasil.
Juntos.com.vc é especialista em captação de recursos por meio do crowdfunding, um financiamento que é feito coletivamente para realizar um projeto específico, contando com o auxilio de pessoas que acreditam na causa, sem depender da aprovação de empresas ou governos. A Juntos.com.vc já captou quase R$3,5 milhões para 155 projetos de impacto social coletivo.
GlobalGiving é um mercado online de ONGs (organizações do terceiro setor) de sessenta e quatro países para compartilhar suas histórias e se conectar com doadores e empresas a nível mundial. O trabalho é voltado para apoiar parceiros através de treinamentos, consultas, campanhas estruturadas e ferramentas on-line para captação de fundos. Desde 2002, a GlobalGiving tem ajudado centenas de organizações a levantar mais de US$160 milhões.
Junte-se à oficina:
Data: quinta-feira, 17 de setembro, 2015
Horário: 13:30 à 17:00
Local: ICom – Instituto Comunitário Grande Florianópolis
R. Lacerda Coutinho, 100 – Centro, Florianópolis – SC
Custo: R$ 30
Programação
13h30 às 14h – Integração entre participantes.
14h às 14h30 – Apresentações da GlobalGiving e Juntos.com.vc
14h30 às 15h30 – World Café – Desafios em mobilização de recursos
15h30 às 17h – Capacitação com dicas para uma campanha de sucesso
17h às 17h30 – Realização de um planejamento de campanha
17h30 às 17h45 – Encerramento – Celebração
Até breve.
Qualquer dúvida estamos à disposição.
Contato: 
nrussell@globalgiving.org; lucas@juntos.com.vc oucomunicacao@icomfloripa.org.br
Obrigado!
att,
GlobalGiving | Juntos.com.vc
Apoio:


 

Submissão de propostas para a 12a Conferência Internacional da ISTR abertas até 26 de Outubro

O evento acontecerá em Estocolmo, na Suécia, de 28 de Junho a 01 de Julho de 2016


12th International ISTR Conference

Ersta Skondal University College Stockholm, Sweden
June 28 to July 1, 2016 
CALL FOR CONTRIBUTIONS
Deadline for Submissions – 26 October 2015

The Third Sector in Transition: 

Accountability, Transparency, and Social Innovation

Entre os eixos temáticos:
  • The Third Sector and the Welfare state 
  • Civil society and Democracy
  • NGOs and Globalization
  • Accountability and Transparency
  • Social Innovation and Social Enterprise
  • Advocacy and Public Policy
  • Philanthropy and Foundations
  • Volunteerism and Co-production
  • Managing Third Sector Organizations
  • Emerging Areas of Theory and Practice

Para saber mais sobre a ISTR: https://istr.site-ym.com/

Livro “Instituto Pe. Vilson Groh: Olhares sobre a atuação em rede” está disponível online

“Instituto Pe. Vilson Groh: Olhares sobre a atuação em rede” é o título do livro que reúne depoimentos de 17 pessoas envolvidas com organizações que integram a Rede Instituto Vilson Groh, abordando diferentes aspectos que desafiam e apontam caminhos para a governança de organizações da sociedade civil e a coprodução do bem público.

Lançado em 01 de Julho de 2015, pela Imaginar o Brasil Editora, está agora disponível online. Para acessá-lo, clique aqui.

O livro é um dos frutos da  pesquisa realizada por Luiz Fernando Nieuwenhoff  Schefer durante o mestrado em administração na Udesc/Esag, quando o autor dialogou com diversas pessoas que se ligam de alguma maneira ao cotidiano das ações realizadas pelas organizações que integram a Rede IVG – colaboradores, fundadores, diretores, voluntários, doadores, parceiros de governos, empresas, universidades e comunidades envolvidas no trabalho. A dissertação de mestrado foi defendida no final de 2014, na Udesc/Esag, sob orientação da Profa. Paula Chies Schommer. Para acessá-la, clique aqui.

A riqueza dos depoimentos durante as entrevistas e o desejo de que fossem compartilhados mais amplamente, permitindo novas reflexões e aprendizagem, motivou a organização do livro por Luiz Fernando N. Schefer, com a colaboração de Nadir Esperança Azibeiro, Kelly Aparecida dos Santos, Karla Marilda Martins, Natália Berns Abreu e Paula Chies Schommer.

O tema da governança em organizações da sociedade civil atuando em rede para a coprodução do bem público é atual e relevante no contexto contemporâneo brasileiro e internacional. É uma grande contribuição para as pesquisas e a gestão na área a sistematização de um trabalho reconhecido por sua consistência e coerência há mais de 30 anos e, ao mesmo tempo, inovador e atento às tendências de trabalho em rede, coprodução, accountability e novas formas de mobilização e gestão de recursos, como os fundos patrimoniais.

Como disse o Pe. Vilson Groh no dia 01 de Julho, “é um trabalho que exige rigor” em cada ação realizada, seja na área administrativa, financeira, nas relações com os parceiros, com as pessoas nas ruas, comunidades e organizações. “Não é qualquer abordagem, qualquer intervenção, é preciso rigor”.

Parabéns e obrigada a todos os envolvidos na construção do livro e, principalmente, na realização diária do trabalho que este apresenta. Parabéns especialmente ao Luiz Fernando pelo rigoroso trabalho que realiza.

Mais informações sobre o livro: http://www.redeivg.org.br/lancamento-livro-instituto-pe-vilson-groh/
Para conhecer mais sobre o trabalho do IVG: http://www.redeivg.org.br/

Conferência da ISTR de 2016 será em Estocolmo.

Estocolmo, na Suécia, será o palco da próxima edição da International Conference of the International Society for Third Sector Research (ISTR). O evento será realizado entre os dias 28 de junho e 01 de julho de 2016.
O tema central dos debates será “The Third Sector in Transition:  Accountability, Transparency, and Social Innovation” – O Terceiro Setor em Transição: Accountability, Transparência e Inovação Social. A ISTR é uma comunidade global que reúne pesquisadores, policy makers, líderes de organizações do terceiro setor, dedicados a criar, discutir e fazer avançar os conhecimentos sobre o Terceiro Setor e os impactos sobre a sociedade civil, o Estado e as políticas públicas.
Abstracts podem ser encaminhados até o dia 26 de outubro de 2015. As linhas temáticas contempladas para a edição de 2016 são:
– Terceiro Setor e o Estado de Bem-Estar Social;
– Sociedade Civil e Democracia;
– ONGs e Globalização;
– Accountability e Transparência;
– Inovação Social e Investimento Social Privado;
– Políticas Públicas e Advocacy;
– Filantropia e Fundações;
– Voluntariado e Co-produção;
– Gestão de Organizações do Terceiro Setor;
– Áreas emergentes na Teoria e na Prática das Organizações do Terceiro Setor;
Os abstracts e papers completos devem ser escritos em inglês. O evento é uma oportunidade para conhecer pesquisadores e gestores do mundo todo.
Mais detalhes sobre a Conferência e a cidade de Estocolmo você pode acessar AQUI.
Palácio Real de Estocolmo

O evento tem relação direta com as Pesquisas do Grupo de Pesquisa Politeia, focadas em temas como a Coprodução do Bem Público, Governança, Accountability e Accountability Social.

Vamos pra Estocolmo?

Tecnologia da Informação e Comunicação (Tic) como instrumento de Coprodução para o exercício da Cidadania

*Por Caroline Rodrigues Döerner
A comunicação está presente na vida do ser humano desde os primórdios. Trocar informações, registrar fatos, expressar ideais e emoções são fatores que contribuíram para a evolução humana. Dessa forma, com o desenvolvimento das sociedades, o homem aprimorou sua capacidade de se relacionar, sendo que conforme as necessidades surgiram, o indivíduo passou a criar novas tecnologias e mecanismos para a comunicação. Podemos conceituar tecnologia como “os conhecimentos que permitem fabricar objetos e modificar o meio ambiente, com vista a satisfazer as necessidades humanas”.[i]
A comunicação é também a responsável por grandes avanços. Por meio da troca de mensagens e consequente troca de experiências, grandes descobertas foram feitas. A comunicação é algo complexo, uma vez que existem várias formas de se comunicar. O escopo aqui é apontar o quanto a troca de mensagens, a informação e o relacionamento social são instrumentos para a evolução de novos conceitos, como por exemplo, a Coprodução e a Gestão do Conhecimento, que promovem democratização nos relacionamentos entre pessoas.
A Tecnologia da Informação (TI) teve uma grande evolução e, com a tendência do mundo moderno, inovações e facilidades ainda serão aprimoradas. A Tecnologia da Informação tem um papel significativo na criação desse ambiente colaborativo e, posteriormente, em uma Gestão do Conhecimento. No entanto, é importante ressaltar que esta tecnologia desempenha seu papel apenas promovendo a infraestrutura, posto que o trabalho colaborativo e a gestão do conhecimento envolvem também aspectos sociais e culturais.
Os avanços da tecnologia da informação têm contribuído para projetar a civilização em direção a uma sociedade do conhecimento.
Atualmente, o foco da Tecnologia da Informação mudou, tanto que o termo TI passou a ser utilizado como TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação. E, dentro desse conceito, novas ideais como colaboração e gestão do conhecimento poderão ser edificadas, porém, mais uma vez é importante enfatizar que nenhuma infraestrutura por si só promoverá a colaboração entre as pessoas, essa atitude faz parte de uma cultura que deverá ser disseminada por toda a sociedade. Podemos citar o exemplo do aplicativo “Waze” em que milhões de motoristas trabalham juntos em prol de objetivo comum: escapar do trânsito e fazer com que todos utilizem a melhor rota, para ir e voltar do trabalho, todos os dias, ou seja, a sociedade atua de forma coprodutiva em um problema público, que é a mobilidade urbana, por meio da Tecnologia da Informação: “nada pode superar as pessoas trabalhando juntas”.
As TICs se tornaram um instrumento capaz de promover e difundir o exercício da cidadania e da democracia em uma sociedade, tamanho seu alcance e influência. A transformação de valores e modelos mentais com a conexão e articulação que as TICs propiciam são impressionantes. A pressão política e a influência nas opiniões são ainda mais fortes, visto que as informações que os cidadãos podem ter acesso estão aumentando a passos largos. Alguns instrumentos como a Lei de Acesso a Informação n° 12.527/2011, permite ao cidadão obter informações e dados da gestão pública, favorecendo a Accountability na Administração Pública.
Uma das experiências de Tecnologia da Informação como instrumento de colaboração é a plataforma Cidade Democrática, em que é possível o compartilhamento de questões públicas, criar e divulgar propostas e problemas e iniciar uma conversa com outros atores sociais; receber apoios para suas propostas e problemas; apontar e compartilhar questões públicas; conhecer o cenário e ter acesso a informações sobre os temas e localidades de interesse; reconhecer comunidades de colaboração e formar redes de pessoas e entidades que atuam em certos temas e locais; apoiar propostas e problemas apontados por outros usuários e entidades; fazer comentários e perguntas de interesse público; criar o seu “observatório” para seguir e participar de discussões sobre os assuntos e as localidades que lhe interessam.
Quanto mais aumentarmos a quantidade de cidadãos com acesso à informação pública e à política, automaticamente aumentaremos a participação social, favorecendo o exercício da cidadania e da democracia, bem como motivando o engajamento do cidadão, como nos exemplos de coprodução, permitindo, assim, uma maior qualidade e diversidade dos bens públicos.


*Caroline Rodrigues Döerner é Contadora, Bacharel em Direito e Especialista em Auditoria e Perícia Contábil. Atualmente é Finance Manager de multinacional japonesa na área de tecnologia, Consultora Associada da empresa GDWill Consultores Associados e aluna especial das disciplinas de Coprodução do Bem Público e Administração Pública, Estado e Sociedade do Mestrado em Administração da ESAG-UDESC.

Participação direta: um caminho para a (re)legitimação do governo brasileiro

*Por Tatiana Bozza
Cidadania pode ser compreendida sob diversos aspectos, especialmente o moral (tradição grega) e o legal (tradição romana), visões que são detalhadas por Janet e Robert Denhardt em seu livro sobre o Novo Serviço Público (2003).
Sob o ponto de vista legal, a cidadania seria representada pela garantia de determinados direitos, especialmente o de propriedade, e exercida por meio do voto. Os representantes eleitos, então, teriam a responsabilidade de garantir os meios (leis) para o exercício desses direitos. A ordem jurídica estabelecida pelos representantes eleitos garante o exercício de direitos, porém sob a condição de cumprimento de uma série de deveres que garantem a manutenção da segurança jurídica dos cidadãos.
Sob o ponto de vista moral, o envolvimento dos cidadãos na vida política, antes de se tratar de uma questão de direitos e deveres, é algo que os realiza plenamente em sua humanidade, pois o homem é um ser ativo, social e moral. Os cidadãos tomam decisões em conjunto e respeitam a autoridade das decisões tomadas, sendo que os governos existem para facilitar esse envolvimento cidadão e ajudá-los a colocar essas decisões em prática (ou a realizar o bem comum). É neste ponto que parecer ter início a crise política em que está mergulhado nosso país.
Os cidadãos estão interessados no exercício da cidadania de maneira direta, no envolvimento e engajamento nas decisões substantivas da sociedade. Porém, a democracia brasileira tem sido exercida muito mais com a participação indireta dos cidadãos, ou seja, a participação tem se restringindo à eleição dos representantes, algo limitador da cidadania, conforme aborda Nancy Roberts em seu excelente texto sobre a era da participação direta (2004).  Além disso, a maneira como o processo eleitoral vem sendo conduzido no Brasil tem gerado polarização de ideias e de grupos, simplificação de realidades complexas e desconfiança dos cidadãos em relação aos governantes.
A campanha da presidente da república reeleita foi pautada pela ideia de que a situação econômica do país passava por dificuldades advindas de uma crise internacional, que estaria acabando e, portanto, o país rumava à recuperação. O ajuste fiscal foi pregado como uma medida desnecessária, que seria adotada pelo principal adversária da então candidata e teria consequências catastróficas. Antes mesmo de tomar posse para seu segundo mandato, no entanto, ao anunciar os nomes da equipe econômica, ficou claro que o discurso era muito diferente da realidade enfrentada pela economia brasileira, foram então tomadas medidas para garantir o aumento da arrecadação (aumento de impostos) e corte de gastos, inclusive com restrição de direitos sociais e trabalhistas.
O povo se sentiu enganado, desrespeitado na sua decisão, o que é demonstrado pelos índices de rejeição do atual governo –  cerca de 44% da população brasileira considera o governo ruim ou péssimo, esse percentual era de 24% em dezembro do ano passado (Datafolha, 07/02/15). Esses dados são anteriores, e de certa forma mais expressivos do que os cerca de 2 milhões de pessoas que foram às ruas no último dia 15 de março. Porém, o governo demonstra-se incapaz de processar essa informação de maneira adequada, e, não apresentando uma resposta satisfatória, leva as pessoas às ruas, pois essa passou a ser a única forma de deixar clara a insatisfação. Ainda que as autoridades tentem desmerecer a mobilização popular, sob a alegação de que as pessoas que foram às ruas são apenas as inconformadas com a derrota nas urnas, e que não passam de oportunistas, se aproveitando da má situação econômica do país para “instituir o terceiro turno nas eleições”, é preciso olhar para os índices de reprovação do governo.
Outra questão, que também pode ser entendida como causa da insatisfação generalizada é a descoberta do esquema de corrupção da Petrobras, que talvez seja o maior que já aconteceu no país, ou pelo menos o maior já revelado. A revelação de esquemas de corrupção como esse levam ao descrédito em relação a toda a classe política e ao sistema político vigente. O nível de confiança das pessoas nos agentes políticos fica significativamente abalado quando um número grande de agentes, ligados a diversos partidos, aparece envolvido em esquemas de desvio de dinheiro público. As pessoas passam a desconfiar da motivação dos políticos quando eles parecem movidos exclusivamente por interesses particulares e não pelo bem comum, esvaziando as lideranças políticas, essenciais para a concretização da democracia, conforme observam os Denhardt (2003).
A população atribui ao governo a responsabilidade pela elevação dos índices de inflação, pelo baixo desempenho da economia (baixo crescimento) e pela ameaça de elevação do desemprego. Ou seja, está olhando para problemas que afetam a sociedade como um todo, e se mobilizando por interesses que ultrapassam seus interesses individuais e imediatos. Os cidadãos estão percebendo que, para além de cobrarem do governo a solução dos problemas, podem fazer parte dela. A realização do interesse público pode e deve ser compartilhada entre cidadão e governo.
Esse é o caso de inúmeros empreendedores sociais que atuam no Brasil, pessoas que implementam ideias inovadoras para a transformação da realidade social e ambiental. Alguns exemplos disso podem ser vistos no site www.ashoka.org.br, uma organização que atua no apoio a empreendedores sociais, integrando-os a uma rede de mundial para intercâmbio de metodologia. São iniciativas que buscam a melhoria das condições de vida das pessoas por meio de ações para, por exemplo, combater o racismo fortalecendo a auto-estima dos negros, lutar contra a falta de transparência no Brasil usando internet e tecnologia da informação, auxiliar pessoas com Síndrome de Down a serem auto-suficientes, introduzir pequenos produtores ao mercado de luxo divulgando os produtos típicos da culinária brasileira, etc
O interesse público perseguido pelos cidadãos articulados entre si e com os servidores públicos é a razão de ser dos governos democráticos e deve ser entendido não apenas como a soma dos interesses individuais, mas com a busca por valores coletivos, por objetivos nos quais há consenso. Nesse sentido, a resposta que se espera do governo para a crise atual ultrapassa a resolução de problemas pontuais, devendo se concentrar na melhoria do diálogo com a sociedade.
A realização do interesse público deve ser o objetivo central do governo e a sua definição, necessariamente, deve se participativa. Cabe ao governo, portanto, incentivar que os cidadãos desenvolvam um senso coletivo de interesse público, o qual deverá ser perseguido.
Assim, a saída para a crise política brasileira começa pela recuperação da credibilidade do governo, na elevação da sensação de que o governo legitimamente representa os cidadãos e está aberto para construir com os cidadãos, o que pode ser alcançado pela melhoria dos níveis de participação, de diversas formas. Os cidadãos precisam acreditar que o governo está agindo em resposta ao interesse público e, assim, trabalharem juntos para realizá-lo.
O governo precisa abrir canais de comunicação com os cidadãos. Com o nível de desenvolvimento tecnológico existente atualmente, pode-se diversificar as formas de democracia direta. Os cidadãos estão conectados por redes sociais e o acesso à informação acontece praticamente em tempo real. Em meio à crise de representatividade em que o país está inserido, aprimorar os mecanismos de manifestação de opiniões de forma direta, permitindo que a tomada de decisão seja feita de forma participativa, poderia ser um caminho.
Os meios existem, o uso da tecnologia permite que sejam feitas votações e debates envolvendo um número muito maior de participantes que os representantes eleitos, trazendo mais transparência para o processo de tomada de decisão. Já existem experiências nesse sentido, como é o caso do Demoex (www.demoex.org), na Suécia, um partido político cuja ideologia consiste especialmente na promoção da democracia direta. Os representantes eleitos desse partido apenas reproduzem nas casas legislativas os resultados das consultas que fazem em seu sitea respeito das questões postas em votação.
Iniciativas semelhantes foram propostas no Brasil nas eleições de 2014. Em Santa Catarina, o candidato a Deputado Estadual Leonardo Secchi e, em São Paulo, o candidato a Deputado Federal Zé Gustavo fizeram campanhas chamando os cidadãos a serem codeputados. Todas as votações das quais participariam esses deputados seriam previamente discutidas com os codeputados por meio digital e as decisões consensuadas levadas às casas legislativas. Acima de tudo, mandatos compartilhados trariam horizontalidade ao processo representativo e propiciariam um processo de aprendizagem social, tornando os cidadãos cada vez mais aptos a participarem ativa e efetivamente da vida política. Porém, nenhum deles foi eleito.  
Seja qual for a solução a ser proposta pelo governo, uma coisa está clara: para as manifestações do dia 15 de março resta uma interpretação, a sociedade clama por participação, pelo exercício ativo da cidadania.
Referências:
DENHARDT, Janet. V. & DENHARDT, Robert. B. The new public service: serving rather than steering. New York: M. E. Sharpe, 2003.
ROBERTS, Nancy. Public Deliberation in an age of direct citizen participation. American Review of Public Administration. V. 34, n.4, p. 315-353, dec 2004.  

*Tatiana Bozza é graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Especialista em Estudos Estratégicos da Administração Pública pela Fundação Escola de Governo – ENA e aluna especial na disciplina Coprodução do Bem Público, do Mestrado em Administração da Udesc/Esag.