A coprodução de serviços públicos e os desafios postos ao Estado: o que a literatura diz?

Dentro do universo de pesquisas desenvolvidas sobre a coprodução de serviços públicos, poucos são os estudos que a exploram a partir de um olhar sobre o Estado, ou seja, que abordam o papel desempenhado pela burocracia pública nesse processo. Todavia, aqueles que trazem este foco específico, ou mencionam essas questões ao longo de sua análise, destacam que este é um ponto fundamental no debate sobre coprodução, tendo em vista que uma das principais barreiras à consolidação das estratégias de engajamento dos cidadãos é justamente a resistência da burocracia pública (BRUDNEY; ENGLAND, 1983; PAMMER, 1992).

Estratégias como a coprodução de serviços públicos alteram o modus operandi clássico das organizações e dos profissionais que nelas se inserem, seja pelo estabelecimento de novas relações com atores externos ou pela necessidade de adaptação de suas operações rotineiras (BOVAIRD, 2007; BOYLE; HARRIS, 2009; RYAN, 2012). O engajamento dos cidadãos traz uma série de desafios à estrutura de funcionamento da burocracia pública. E é fundamental que os mesmos sejam considerados se buscamos uma real articulação entre o Estado e a sociedade. Por isso, elencamos, de forma breve, alguns dos desafios abordados pela literatura da área.

É preciso, antes de tudo, ter em mente que estabelecer relações com os cidadãos a partir de um modelo organizacional baseado nos preceitos burocráticos tradicionais, conforme destacado por Guizardi e Cavalcanti (2010), possui inúmeras limitações. O modelo hegemônico de organização tem como foco principal o exercício do controle e da dominação, tanto sobre seus membros quanto sobre os agentes externos, o que dificulta a transformação democrática de suas instituições. O modelo clássico de organização reduz a sociedade a um caráter unidimensional e inibe o envolvimento ativo do cidadão na construção democrática (TOMBI; SALM; MENEGASSO, 2006). O risco, nesse cenário, é justamente o de desenvolver processos manipulativos.

Por isso, não se trata de trazer o cidadão para dentro desse formato, mas sim da capacidade do burocrata em responder de forma não burocratizada. Warren (1987) observa que o fator crítico não é a integração dos cidadãos dentro da estrutura clássica da burocracia, mas sim a adaptação desse formato em prol da efetividade das práticas de coprodução dos serviços públicos. Assim, trabalhar no desenvolvimento de novos arranjos institucionais da burocracia é fundamental, em particular para a mitigação das divergências, por vezes recorrentes, entre os valores burocráticos e valores democráticos que permeiam a prática da coprodução (PAMMER, 1992).

Diante disso, o primeiro desafio diz respeito ao papel exercido pelo Estado e, dessa forma, pelos burocratas que o compõe. Para que a inserção dos cidadãos no processo de produção e entrega de serviços públicos se dê de forma genuína, é preciso que a burocracia pública desempenhe um papel predominantemente de articulação, mediação e negociação (ALFORD, 1998; DENHARDT, 2012; LAVIGNE, 2014). A exclusividade pela regulação e provisão de bens e serviços deixa, ou deveria deixar, de ser uma característica da burocracia pública quando a mesma torna suas fronteiras mais porosas à participação do cidadão. Parte-se de uma concepção mais ampla de governo, que, embora mantenha suas funções clássicas como produtor, comprador, regulador e subsidiador, também passa a atuar como articulador, possibilitador e catalisador de esforços dos cidadãos, sendo capaz de transformar o espaço público em um espaço de construção colaborativa (KLEIN JR; SALM; HEIDEMANN, MENEGASSO, 2012).

Esse ponto, por sua vez, nos remete ao segundo desafio: a mudança cultural. Tuurnas (2015) observa que uma renovação na cultura organizacional é parte inerente da consolidação da coprodução, em particular no que diz respeito ao reconhecimento, por parte dos burocratas, da importância do conhecimento experiencial dos cidadãos ao lado de seus conhecimentos profissionais na produção dos serviços públicos. Isso, todavia, é um grande desafio em contextos em que os papéis dos cidadãos e dos profissionais por muito tempo seguiu o modelo tradicional: como beneficiários e provedores, respectivamente (PESTOFF, 2006).

Além da mudança cultural, a inserção da estratégia de coprodução de serviços públicos passa pelo desafio do desenvolvimento de novas habilidades pelos burocratas (TUURNAS, 2015). Bovaird e Löeffler (2012) reconhecem a necessidade de desenvolvimento de habilidades profissionais específicas para o exercício da coprodução, em especial por meio de um treinamento dos profissionais que realizarão de forma direta a interface com os cidadãos. Para os autores é preciso ser capaz de perceber e aproveitar os recursos que os atores externos possuem, abrir espaço para que as pessoas de fato se desenvolvam e usar uma grande variedade de métodos para trabalhar em conjunto com os cidadãos ao invés de tentar apenas conduzí-los.

Isso abre espaço para o último desafio aqui abordado, a necessidade de desenvolvimento e/ou engajamento de um novo perfil de profissional, que colabora com outros em função de valores compartilhados e não em função da soberania organizacional. A colaboração com os cidadãos ocorre não apenas porque os burocratas possuem um compromisso com a organização em que se inserem ou pela existência de uma previsão legal, mas também porque concordam os valores democráticos envolvidos no processo e com a importância da missão conjunta para a efetividade do serviço público disponibilizado (BOLAND; COLEMAN, 2008).

É importante ter em mente, todavia, que essa mudança no papel da burocracia não é linear, muito menos homogênea, considerando que a burocracia se insere em diferentes contextos e é formada por diferentes níveis. Estes, por sua vez, apresentam em sua composição profissionais com diferentes interesses, perfis e entendimentos em relação à importância da inserção dos cidadãos no processo de produção e entrega de serviços públicos. O reconhecimento dos desafios existentes apenas indicam possíveis caminhos a serem explorados, tanto em termos teóricos quanto empíricos.

 

Referências

ALFORD, J. A public management road less travelled: Clients as co-producers of public services. Australian Journal of Public Administration, v. 57, n. 4, p. 128-137, 1998.

BOLAND, L.; COLEMAN, E. New development: What lies beyond service delivery? Leadership behaviours for place shaping in local government. Public Money and Management, v. 28, n. 5, p. 313-318, 2008.

BOVAIRD, T. Beyond engagement and participation: User and community coproduction of public services. Public Administration Review, v. 67, n. 5, p. 846-860, 2007.

BOVAIRD, T.; LOEFFLER, E. From Engagement to Co-production: The Contribution of Users and Communities to Outcomes and Public Value. Voluntas, v. 23, n. 4, p. 1119-1138, 2012.

BOYLE; D.; HARRIS, M. The challenge of co-production. London: New Economics Foundation, 2009.

BRUDNEY, J. L.; ENGLAND, R. E. Toward a definition of the coproduction concept. Public Administration Review, v. 43, n. 1, p. 59-65, 1983.

DENHARDT, R. B. Teorias da Administração Pública. São Paulo: Cengage Learning, 2012.

GUIZARDI, F. L.; CAVALCANTI, F. D. O. L. O conceito de cogestão em saúde: reflexões sobre a produção de democracia institucional. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 20, n. 4, p. 1245-1265, 2010.

KLEIN JR, V. H.; SALM, J. F.; HEIDEMANN, F. G.; MENEGASSO, M. E. Participação e coprodução em política habitacional: estudo de um programa de construção de moradias em SC. Revista de Administração Pública, v. 46, n. 1, p. 25-48, 2012.

LAVIGNE, M. A. Urban governance and public leisure policies: a comparative analysis framework. World Leisure Journal, v. 56, n. 1, p. 27-41, 2014.

PAMMER, W. J. Administrative norms and the coproduction of municipal services. Social Science Quarterly, v. 73, n. 4, p. 920-929, 1992.

PESTOFF, V. Citizens and co-production of welfare services. Childcare in eight European countries. Public Management Review, v. 8, n. 4, p. 503-519, 2006.

RYAN, B. Co-production: Option or Obligation? Australian Journal of Public Administration, v. 71, n. 3, p. 314-324, 2012.

TOMBI, W. C.; SALM, J. F.; MENEGASSO, M. E. Responsabilidade social, voluntariado e comunidade: estratégias convergentes para um ambiente de co-produção do bem público. Organizações & Sociedade, v. 13, n. 37, p. 125-141, 2006.

TUURNAS, S. Learning to co-produce? The perspective of public service professionals. International Journal of Public Sector Management, v. 28, n. 7, p. 583-598, 2015.

WARREN, R. Coproduction, volunteerism, privatization, and the public-interest: introduction. Journal of Voluntary Action Research, v. 16, n. 3, p. 5-10, 1987.

Perfil das Organizações da Sociedade Civil do Brasil

 A Coordenadoria de Pesquisa Jurídica Aplicada da FGV Direito SP, o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançaram a publicação “Perfil das Organizações da Sociedade Civil do Brasil” e a nova versão do “Mapa das Organizações da Sociedade Civil“.

A obra traz as principais características das 820 mil organizações da sociedade civil (OSCs) mapeadas no país, bem como informações sobre recursos públicos transferidos, vínculos de trabalho, entre outras.

O lançamento das publicações ocorreu no dia 16 de agosto no Auditório da FGV Direito SP, em São Paulo, com transmissão ao vivo. O evento “OSC em Pauta“, proporcionou um espaço de debates a partir do projeto de pesquisa Sustentabilidade Econômica das OSC, feito em parceria pela FGV Direito SP, Gife e Ipea. O debate girou em torno das informações que foram estruturadas e dados estatísticos que podem fomentar estudos analíticos do setor e servir de subsídio para políticas públicas envolvendo OSCs, bem como ser utilizados como fonte de informação para pesquisas científicas e outras ações.

O vídeo completo do evento pode ser acessado aqui.

PERFIL DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL NO BRASIL:

Segundo o documento apresentado pelo IPEA (2018), considera-se organizações da sociedade civil – OSCs, apenas as entidades que se enquadram simultaneamente nos cinco critérios seguintes:

i) São privadas e não estão vinculadas jurídica ou legalmente ao Estado;
ii) Não possuem finalidades lucrativas, ou seja, não distribuem o excedente entre proprietários ou diretores e, se houver geração de superávit, este é aplicado em atividades fins da organização;
iii) São legalmente constituídas, ou seja, possuem personalidade jurídica e inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ;
iv) São autoadministradas e gerenciam suas próprias atividades de modo autônomo;
v) São constituídas de forma voluntária por indivíduos, e as atividades que desempenham são de livre escolha por seus responsáveis.

No país, esses critérios correspondem a três tipos jurídicos do Código Civil brasileiro: associações privadas, as fundações privadas e as organizações religiosas (IPEA, 2018). Segundo a pesquisa, 709 mil (86%) são associações privadas, 99 mil (12%) são organizações religiosas e 12 mil (2%) são fundações.

Segundo o IPEA (2018) trata-se, portanto, de um universo de 820 mil organizações da sociedade civil com CNPJs ativos no Brasil, em 2016, sendo que a região Sudeste abriga 40% das organizações, seguida por Nordeste (25%), Sul (19%), Centro-Oeste (8%) e a região Norte (8%). Vale registrar que todos os municípios do país possuem pelo menos uma OSC. As organizações que tem como finalidade desenvolvimento e defesa de direitos e interesses e as organizações com finalidade religiosas são os principais grupos de OSCs do país e representam mais de 6 em cada 10 organizações em atividade.

Outra informação relevante é acerca da densidade de OSCs no território, um indicativo da propensão comparada ao associativismo, em diferentes áreas do país. Em 2016, havia no Brasil 4 OSCs por mil habitantes. A região Sul e Santa Catarina são respectivamente a região e estado com maior densidade de OSCs. Santa Catarina apresenta uma densidade de 64% acima da média nacional. Somente a região Sul apresenta Estados com densidade superior à média nacional (IPEA, 2018).

O documento completo sobre o perfil das OSCs pode ser acessado pelo link: https://mapaosc.ipea.gov.br/pdf/publicacao-IPEA-perfil-osc-Brasil.pdf 

O Mapa das OSCs no Brasil pode ser visualizado aqui: https://mapaosc.ipea.gov.br/

 

 

II Congresso Internacional de Desempenho no Setor Público – CIDESP

O II CIDESP, organizado pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e Fundação ENA / Escola de Governo, será realizado nos dias 27 a 29 de Agosto de 2018 no Teatro Pedro Ivo do Centro Administrativo do Governo do Estado de Santa Catarina.

De natureza técnica e científica o CIDESP tem como principais objetivos:

  • Estimular a discussão sobre o desempenho do setor público, a partir da perspectiva da comunidade científica e dos profissionais que atuam no âmbito da gestão pública
  • Disseminar e discutir as boas práticas de gestão que contribuem para a melhoria do desempenho do setor público, a partir de contextos locais, regionais, nacionais e internacionais.
  • Estimular maior integração entre a comunidade científica e os e os profissionais que atuam no setor público, estimulando o desenvolvimento de pesquisas aplicadas que agreguem valor à gestão pública, aos servidores e a sociedade em geral.

Os artigos abordam os temas a seguir, com a identificação dos professores responsáveis pelo tema:

  1.  Teorias, Metodologias e Modelos de Análise em Administração Pública (Profa. Dra. Luciana de Abreu Ronconi – UDESC)
  2.  Reformas Administrativas, Desburocratização e Flexibilidade Organizacional (Profa. Dra. Patrícia Vendramini – UDESC)
  3.  Modelos de Gestão e Novos Formatos Organizacionais para a Prestação de Serviços Públicos (Profa. Dra. Simone Ghisi Feuerschütte – UDESC)
  4.  Formulação e Gestão de Políticas Públicas (Prof. Dr. Marcello Beckert Zappellini – UDESC)
  5.  Avaliação de Desempenho e Gestão por Resultados 
(Profa. Dra. Sandra Rolim Ensslin – PPGC UFSC, Prof. Dr.Leonardo Ensslin – PPGA UNISUL)
  6.  Planejamento, Gestão Estratégica e Planos de Desenvolvimento (Profa. Msc. Júnia Soares – Fundação ENA Escola de Governo)
  7.  Gestão Orçamentária, Finanças e Contabilidade (Profa. Dra. Fabricia da Silva Rosa – PPGC UFSC, Prof. Dr.Rogério João Lunkes – PPGC UFSC)
  8.  Transparência, Participação e Controle Social (Prof. Luis Moretto Neto – PPGA UFSC, Prof. Arlindo de Carvalho Rocha – UDESC)
  9.  Gestão de Pessoas (Prof. Dr.Ademar Dutra – PPGA UNISUL)
  10.  Desempenho Fiscal e Federalismo (Prof. Dr.Sergio Murilo Petri – PPGC UFSC)
  11.  Gestão de Compras e Patrimonial (Prof. Dr.Gerson Rizzatti Junior – PNAP UFSC)
  12.  Inovação, Gestão do Conhecimento e Tecnologias Aplicadas a Gestão Pública (Profa. Dra. Denise Del Prá Netto Machado – PPGA UNISUL; Profa. Dra. Clarissa Carneiro Mussi – PPGA UNISUL)
  13.  Inovações Sociais (Prof. Dr. Nei Antonio Nunes, PPGA/UNISUL; Prof. Jacir Leonir Casagrande)
  14.  Gestão Pública Municipal e Territorialidade Prof. Dr.Bernardo Meyer – CPGA UFSC)
  15.  Gestão Pública Comparada (prof. Dr. Thiago Soares – PPGA UNISUL)
  16.  Gestão Pública Universitária (Profa. Dra. Alessandra de Linhares Jacobsen – PPGAU UFSC)

O Cronograma de Apresentação de Artigos: http://www.cidesp.com.br/files/CRONOGRAMA-DE-APRESENTACAO.pdf

Mais informações: www.cidesp.com.br 

IV Encontro Latino-americano de Inovação Social no Setor Público – ELIS

Promovido pelo Observatório de Inovação Social de Florianópolis, o “ELIS” é um projeto de pesquisa e extensão da UDESC/ESAG, em parceria com a startup WeGov e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Estado de Santa Catarina.

A 4ª edição do Encontro se dará nos dias 29 e 30 de agosto.

O evento inicia as 8:30, do dia 29 de agosto, e acontecerá na sede da Softplan (Cachoeira do Bom Jesus – Florianópolis/SC).

O ELIS é um evento que promove o diálogo sobre a inovação social no setor público, envolvendo servidores públicos, empreendedores sociais, pesquisadores, estudantes e representantes da sociedade civil de vários países da América Latina.

Foram recebidos 58 trabalhos e selecionados 30 para compor a programação do ELIS 2018. Os trabalhos serão divididos entre pesquisas acadêmicas, relatos de prática em instituições públicas e casos inovadores de empreendedorismo social em governo e serão apresentados tanto em formato de painel de conversas quanto na feira da inovação.

As inscrições são gratuítas e para mais informações sobre a programação pode-se acessar o site do evento: http://elis.wegov.net.br/

O ELIS faz parte de um movimento muito maior: uma rede latinoamericana de inovadores sociais a partir do setor público.

Apoio: Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), Softplan, Social Good Brasil, Fundação BMW Herbert Quandt e FAPESC.

 

Alunos de Administração Pública da Udesc apoiam projeto social que beneficia jovens em Guiné-Bissau

* Por Gustavo Cabral Vaz
Publicado originalmente em: http://www.esag.udesc.br/?idNoticia=19420


21/12/2017 ~ 16h00min

Alunos de Administração Pública da Udesc apoiam projeto social que beneficia jovens em Guiné-Bissau

Iniciativas de alunos da Udesc Esag visam apoiar jovens do país africano - Foto por: Fotos: Divulgação
Iniciativas de alunos da Udesc Esag
visaram apoiar jovens do país africano.
Fotos: Divulgação

Estudantes de Administração Pública da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) promoveram no segundo semestre deste ano ações em apoio a um projeto social realizado em Guiné-Bissau, na África, um dos países com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo.

Desenvolvido pelo Instituto Vilson Groh (IVG)desde 2013, o projeto contribui para o custeio dos estudos de jovens de 13 e 18 anos na comunidade rural de Empada, na região de Quinara, distante 300 km da capital Bissau.

O apoio ao custeio, viabilizado por uma rede de doadores brasileiros coordenada pelo IVG, inclui mensalidades, material escolar e alimentação dos estudantes, além de recursos para a infraestrutura das escolas.

Atividades na Udesc Esag

Em Florianópolis, os estudantes do Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas (Esag) conheceram o trabalho por meio do coordenador do projeto em Guiné-Bissau, padre Maio da Silva.

Em viagem de estudos à Capital, o padre cursou um mês de aulas na Udesc Esag, em duas disciplinas do curso de Administração Pública: Desenvolvimento Comunitário e Poder Local; e Gestão de Organizações do Terceiro Setor.

Nas aulas, o padre falou sobre o projeto e seu país de origem para as turmas do sexto e sétimo termos matutinos, que se motivaram a realizar iniciativas em apoio ao projeto, coordenadas pela professora Paula Chies Schommer.

Recursos e projeto de intercâmbio

Para mobilizar recursos, os acadêmicos organizaram uma rifa, que arrecadou cerca de R$ 2,7 mil, integralmente usados na aquisição de alimentos para a cantina do Liceu em Empada, Guiné-Bissau.

Além da campanha, uma parte da turma iniciou a elaboração de um projeto de intercâmbio entre a Udesc Esag e universidades na Guiné-Bissau.

Voltado às áreas de educação, agricultura e administração pública, esse projeto de intercâmbio será detalhado e desenvolvido a partir do ano que vem.

A iniciativa será articulada em parceria com a Associação Amigos da Guiné-Bissau (AGB), formada recentemente a partir da rede de voluntários e doadores mobilizada pelo IVG.

Doutorando

Um dos envolvidos no projeto é Willian Narzetti, doutorando em Administração da Udesc Esag. Nos últimos cinco anos, Narzetti coordenou as ações do IVG em apoio ao projeto de Guiné-Bissau. Em fevereiro próximo, ele visitará o país africano para tratar das próximas ações da parceria.

O padre Maio da Silva também tem visitas de estudos ao Brasil planejadas nos próximos dois anos. Em 2013, ele esteve na Udesc Esag para apresentar o projeto social de seu país de origem, quando foi iniciada a mobilização da rede de apoio.

Leia mais:

13/08/2013 – Projeto social desenvolvido em Guiné-Bissau é apresentado na Udesc Esag

Assessoria de Comunicação da Udesc Esag
E-mail: comunicacao.esag@udesc.br
Telefone: (48) 3664-8281

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Mais sobre a rifa:

Prêmios arrecadados/doados:

1° lugar – Bicicleta CALOI Andes 21 V. seminova
2º lugar – Naked Cake de 35 fatias, da Heloisa Kuci Atelier de Doces
3º lugar – Cesta de cervejas artesanais Kairós.

Valor de cada número: R$ 2,00
Total arrecadado: R$ 2.782,00 – a serem integralmente utilizados na compra de alimentos para a cantina do Liceu em Empada, Guiné-Bissau.

Contemplados no sorteio realizado em 29 de Novembro de 2017:
1º Prêmio – nr. 822 – Helena Raupp
2º Prêmio – nr. 264 – Maria Vitória Alves
3º Prêmio – nr. 922 – Maria Alves Favela

Valor adicionado na coprodução de serviços públicos e impacto socioambiental é tema de evento do Politeia

* Por Gustavo Cabral Vaz
Publicado no Portal da Esag Udesc – http://www.esag.udesc.br/?idNoticia=19408

20/12/2017 ~ 14h00min

Grupo de pesquisa da Udesc realiza evento sobre coprodução de serviços públicos em Florianópolis

Evento foi realizado na Udesc Esag - Foto por: Fotos: Gustavo Vaz/Ascom
Evento foi realizado na Udesc Esag.
Fotos: Gustavo Vaz/Ascom

Auditório do Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas (Esag), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), recebeu na manhã desta quarta-feira, 20, o evento “Valor adicionado na coprodução de serviços públicos e impacto socioambiental”, promovido pelo grupo de pesquisa Politeia – Coprodução do Bem Público: Accountability e Gestão.

O encontro reuniu pesquisadores, acadêmicos e demais interessados pelo tema e contou com um painel com dois palestrantes convidados.

O professor Sandro Cabral, integrante do Núcleo de Medição para Investimentos de Impacto Socioambiental (Metricis) do Insper, falou sobre a avaliação de impacto em intervenções socioambientais.

Em seguida, o agrônomo e vereador de Florianópolis Marcos José de Abreu abordou o tema “Gestão comunitária de resíduos orgânicos: o caso do Projeto Revolução dos Baldinhos (PRB), capital social e agricultura urbana”.

O painel de debate teve participação das professoras da Udesc Esag Paula Schommer, como mediadora, e Graziela Dias Alperstedt, como debatedora.

Defesa de mestrado

Antes das palestras e do debate, o evento iniciou com uma defesa de dissertação relacionada ao tema, da acadêmica Caroline Rodrigues Döerner, pelo Mestrado Profissional em Administração da Udesc Esag.

Com o título “Valor adicionado na coprodução de serviços públicos: proposta de um modelo de medição inspirada na gestão comunitária de resíduos orgânicos”, o estudo foi orientado pela professora Paula Schommer e resultou em um modelo de medição de valor adicionado e impactos, em forma de planilha, que pode ser utilizado em diversas iniciativas.

Além da orientadora, integraram a banca os professores doutores Sandro Cabral e Graziela Dias Alperstedt e o agrônomo Marcos José de Abreu.

O encontro desta quarta também teve como objetivo debater uma parceria entre a Udesc Esag e o Insper Metricis para desenvolver conhecimento e instrumentos em áreas como medição de valor adicionado e impactos na coprodução de serviços públicos, negócios sociais, negócios de impacto e políticas públicas.

Assessoria de Comunicação da Udesc Esag
E-mail: comunica.esag@udesc.br
Telefone: (48) 3664-8281 

Mais imagens em: http://www.esag.udesc.br/?idNoticia=19408

Coprodução para cuidado e proteção dos animais em Florianópolis: o caso do Instituto É o Bicho

Por Maria Clara Ames*

Uma questão de interesse público que vem ganhando evidência em Florianópolis e várias outras cidades é a proteção e cuidado com animais, especialmente pelo número de animais domésticos que hoje fazem parte da vida das pessoas. Soltos nas ruas brasileiras, estima-se que haja em torno de 30 milhões de animais. Até pouco tempo, esses eram recolhidos e sacrificados. Atualmente, o município de Florianópolis mantém canis e gatil para os animais abandonados. Cuidado este que partiu do protagonismo da comunidade da cidade.

Em setembro de 2002 foi lançado o site eobicho.org, com a finalidade de ser um canal para a adoção de animais resgatados das ruas ou situações de maus-tratos, por um primeiro grupo de protetores. A iniciativa “É o Bicho!” foi pioneira na cidade e se tornou um importante e eficaz meio de encaminhamento dos animais para novos lares. Em 26 de setembro de 2003, foi criado oficialmente a Organização Não Governamental de Proteção Animal e Educação Ambiental, dirigida por Mauricio Varallo, chamada “Instituto É oBicho!”.

Fonte: Instituto É o Bicho

Atualmente, Florianópolis conta com este e alguns outros institutos que se dedicam à proteção de animais. Entre eles, o É o Bicho atua em parceria com a administração pública para cuidar de cães e gatos e garantir sua proteção e redução de sofrimento. Além de intermediar voluntários que abrigam os animais e que podem vir a adotá-los, e orientar sobre como fazer denúncias de maus tratos, a organização repassa alimentos e cuida da saúde dos animais, em colaboração com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), uma das diretorias da Secretaria Municipal de Saúde (conforme CCZ). No âmbito da Prefeitura, também atua  a Diretoria do Bem-Estar Animal, Dibea, responsável pelo recolhimento e acolhimento de animais, cuidados veterinários (clínico, cirúrgico, atendimento domiciliar), atendimento a denúncias de maus tratos e castração.

Alice Castro, professora de Administração da Udesc Esag, foi uma das pessoas que adotaram um cãozinho. Além de relatar de forma geral como o Instituto e o centro de zoonoses coproduzem, Alice conta que, após a adoção, seus colaboradores têm todo um cuidado e acompanhamento para saber se o cão está sendo bem cuidado e tratado. Até mesmo por redes sociais, às vezes um contato informal é o suficiente para saber que está tudo bem com ele, afirma Alice.

O Instituto É o Bicho atua, ainda, no combate ao uso de animais como comércio ou para entretenimento, rodeios, farra do boi, animais em circo, vivissecção e qualquer ação que implique em desconforto, maus tratos e violação dos seus direitos. Realiza trabalhos educativos e de conscientização em escolas e outros espaços, atua ativamente no resgate de animais e participa de discussões legais que possam contribuir para protegê-los. Ainda, divulga o vegetarianismo como prática necessária para vivermos em harmonia com os animais e repudiam qualquer atividade baseada na exploração e sofrimento destes. Um termo com o qual define a condição dos animais é como seres sencientes. A senciência é a capacidade se sentir, de ter experiências que afetam o ser positiva ou negativamente.

Os cidadãos podem colaborar de várias maneiras nessa questão pública. Podem se candidatar para adoção, podem optar pelo voluntariado em campanhas ou podem, ainda, apadrinhar um animal, contribuindo com recursos para que ele seja cuidado. Outras formas de doação abrangem contribuições únicas ou mensais, para cobrir despesas de kits de serviços ou procedimentos médicos, tais como vacinas, exames e castração.

Segundo o Instituto, quando um bicho é resgatado, ele precisa de vários cuidados para começar sua nova vida. Além de alimento, segurança e conforto, todos os animais protegidos são doados somente depois de recuperados, vermifugados, vacinados e castrados. O objetivo é doar 100% dos animais já castrados, sendo a única forma de se garantir um trabalho eficiente.

O Instituto não trabalha com abrigo e para isso conta com o acolhimento dos animas na casa de um protetor, ou em lares temporários voluntários ou, quando não se tem vagas, em hospedagens pagas mensalmente.

Em 2014, foi composto o Conselho Municipal de Proteção Animal de Florianópolis. A Lei complementar 489/2014, de 20 de março de 2014, dispõe sobre a criação desse Conselho, composto por membros do poder público e da sociedade. Há um representante de cada uma das seguintes Secretarias: da Saúde, da Educação, do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, da Guarda Municipal de Florianópolis, e um representante do Ministério Público Estadual (Grupo de Defesa dos Direitos dos Animais). Além de cinco representantes de ONGs de proteção animal diferentes. Inicialmente, ficou decidido pela participação das Ongs: Instituto É o Bicho, Protetores e Amigos Trabalhando pelos Animais (PATA), OBA Floripa – Organização Bem Animal, Associação Catarinense de Proteção aos Animais (ACAPRA) e R3 Animal.

Entre outras prerrogativas, essa lei torna obrigatória a castração de todos os bichos protegidos pelos Institutos, antes da adoção, baseados no princípio de proteção consciente.

O Instituto É o Bicho considera a castração como um cuidado imprescindível, porque além de proteger a saúde, protege futuros descendentes de experimentar o sofrimento e o abandono, ajudando no controle da superpopulação de cães e gatos. Os gatos selvagens, que são devolvidos à rua quando terminam o pós-operatório, recebem um pic na orelha esquerda e, assim podem ser identificados como já castrados, caso sejam recolhidos em outro momento.

Segundo dados da Dibea, da prefeitura de Florianópolis, em fevereiro de 2017, havia mais de 100 animais à disposição para adoção. Além do Dibea e do Conselho Municipal de Proteção Animal, um indicativo recente da repercussão do problema foi a notícia de um projeto de lei que discute a proteção dos animais como seres sencientes, encaminhado à Assembleia Legislativa do Estado (Projeto Lei 160/2017).

Considerando que o abandono de animais é um problema que deve ser resolvido em conjunto com a comunidade, a Diretoria fez um apelo para somar os esforços e engajar o maior número possível de pessoas ao projeto, surgindo assim o corpo de voluntários que, embasados pela Lei 9.608/98, dão suporte à Diretoria de Bem-Estar Animal, atuando nas comunidades carentes e no Canil Municipal. Hoje, o número de voluntários chega a 400, atuando diariamente em parceria com a Dibea.

Com essa rede de atores, mais os passos legais e instituições que começam a se fortalecer, percebe-se o encontro de diferentes formas de se abordar o problema. Do ponto de vista da administração do município, interessa um controle populacional dos cães e gatos que vivem nas ruas. O Instituto É o Bicho e outros citados inserem-se como atores preocupados com a proteção e cuidado da vida desses animais. A comunidade em geral doa seu tempo, cuidado e recursos, que se somam aos demais esforços e contribuem ativamente para a redução do número de animais que sofrem por maus tratos ou estão abandonados.

Dito de outra forma, as iniciativas motivadas inicialmente por problemas distintos – população de animas nas ruas e proteção e cuidado para com os animais, convergem em uma solução quando os esforços coletivos se encontram, demonstrando a importância da participação conjunta de servidores públicos e cidadãos. Estes, ao mesmo tempo que buscam garantir o cuidado e a saúde dos animais, contribuem para a redução de animais soltos nas ruas, ao acolhê-los em suas casas.

* Texto elaborado por Maria Clara Ames, doutoranda em administração, no âmbito da disciplina Coprodução do Bem Público, do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade do Estado de Santa Catarina, Udesc Esag.