A utilização de redes sociais pessoais por políticos governantes 

Por Ben Hur de Campos, Giovane Luiz Nunes, Leonardo Alovisi Aita Costa e Mateus de Araujo Lopes*

Aplicativos de redes sociais, notícias, jogos e outros dispositivos de mídias sociais são acessados diariamente pela população. Quando falamos da comunicação entre político e população, é possível perceber uma fragilidade, pois poucos são os candidatos eleitos que conseguem manter a população ativa em suas ações durante a campanha. Os dispositivos de redes sociais surgem como uma alternativa para conectar os eleitores às decisões públicas.

A relação entre a utilização das redes sociais com a transparência pode se mostrar relevante do ponto de vista da praticidade e do alcance no acesso à informação por parte da população. Durante o período da pandemia do COVID-19, foi possível perceber essa prática de comunicação e divulgação de notícias. Moradores de inúmeros municípios passaram a se informar sobre o processo de vacinação por meio das redes de políticos e governantes que estavam diretamente envolvidos no assunto. Como exemplos, podemos citar Gean Loureiro, prefeito de Florianópolis entre 2017 e o início de 2022, e o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, com mandato entre 2019 e 2022.

Gean Loureiro

Um dos principais exemplos da utilização das redes pessoais para divulgação de notícias institucionais, no município de Florianópolis, foi o prefeito Gean Loureiro, que desde o início da pandemia utilizou suas redes sociais para informar à população sobre os riscos da COVID-19 e as medidas tomadas pelo governo durante a pandemia. 

Durante todo o período de vacinação, o Instagram e Twitter do prefeito eram utilizados para informar detalhes sobre as idades liberadas e os locais disponíveis para vacinação contra a COVID-19. Diariamente, as redes sociais do prefeito eram consultadas por milhares de cidadãos. A gestão da pandemia pela Prefeitura e a campanha de vacinação da COVID-19 em Florianópolis foram relevantes para a reeleição do prefeito Gean Loureiro em 2020, quando conseguiu atingir 126.144 votos (53,46%) e se eleger logo no primeiro turno. 

Após a reeleição de 2020, o prefeito se candidatou a governador de Santa Catarina, porém acabou não passando para o segundo turno. O candidato era mais conhecido na região da grande Florianópolis e a eleição foi polarizada entre outros partidos que não eram o do candidato.

Apesar de não ter sido eleito para governador de Santa Catarina, Gean Loureiro foi considerado um dos cinco prefeitos mais influentes do Brasil de acordo com uma pesquisa realizada pela revista Exame.

Carlos Moisés da Silva

Outro exemplo da utilização de redes sociais com o objetivo de informar à população e dar transparência ao setor público é a utilização do Twitter e do Instagram pelo Governador Carlos Moisés para expor as ações que o Governo de Santa Catarina está realizando, principalmente na área de obras públicas,mostrando com frequência a inauguração de obras concluídas. 

No entanto, essa exposição das ações do governo Moisés não resultou em sua reeleição. Marcado pelo caso da compra dos respiradores, e da separação de Moisés da figura política de Bolsonaro, o impacto negativo para sua reeleição foi evidente, já que Santa Catarina vem se mostrando um estado bolsonarista, como visto nas eleições de 2018 e 2022.

Conclusões e dilemas

Em épocas que tanto se fala de fake news, qual a fiscalização que uma conta na rede social pessoal de um político utilizada para fins de utilidade pública possui? A linha entre a transparência e a exposição de informações selecionadas pelo agente público é tênue, pois pode envolver interesses pessoais, formando opiniões sobre a atuação de cada político. Para divulgação de informações sobre a pandemia e obras públicas, em que medida é desejável que o principal canal para isso seja a conta pessoal do político que lidera o governo, pois isso pode gerar confiança, ou seria melhor usar e fortalecer os canais institucionais?

A fiscalização de contas pessoais para cunho institucional é um tema que deve estar em voga no nosso dia a dia, havendo controle tanto pela opinião pública como pela comunicação institucional de cada órgão. A possibilidade de expressar atos públicos através de um meio de comunicação que pode ser um manipulador de opinião pode ser uma arma para a desinformação e a fragilização das instituições de governo e Estado.

*Texto elaborado pelos acadêmicos de Administração Pública, Ben Hur de Campos, Giovane Luiz Nunes, Leonardo Alovisi Aita Costa e Mateus de Araujo Lopes, no âmbito da disciplina Sistemas de Accountability, da Udesc Esag, ministrada pela professora Paula Chies Schommer, em 2022.

Referências

CAMPOS, Anna Maria. Accountability: quando poderemos traduzi-la para o português? Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, fev./abr. 1990.

Gean Loureiro, do DEM, é reeleito prefeito de Florianópolis. G1 SC, 15 de novembro de 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2020/11/15/gean-loureiro-do-dem-e-reeleito-prefeito-de-florianopolis.ghtml.

Respiradores comprados por SC por R$ 33 milhões têm atraso de 3 semanas na entrega. G1 SC, 28 de abril de 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2020/04/28/respiradores-comprados-por-sc-por-r-33-milhoes-tem-atraso-de-3-semanas-na-entrega.ghtml

Doria divide topo de ranking de prefeitos mais influentes da web. Exame, 17 de abril de 2017. Disponível em: http://mdb-sc.org.br/gean-esta-entre-os-cinco-prefeitos-mais-influentes-do-brasil-nas-redes-sociais-segundo-levantamento-da-exame/

Derrota de Moisés se explica pelo afastamento de Bolsonaro. NSC Total, 03 de outubro de 2022. Disponível em: https://www.nsctotal.com.br/colunistas/renato-igor/derrota-de-moises-se-explica-pelo-afastamento-de-bolsonaro