Blog do Grupo de Pesquisa Politeia – Coprodução do Bem Público: Accountability e Gestão, da Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas – UDESC/ESAG
Atualmente o tema corrupção está presente em diversas denúncias e discussões, na terça feira 16 de Abril no auditório da ESAG será debatido estratégias para o combate à corrupção, prática de irregularidades e ilicitudes, como por exemplo Compliance e Whistleblowing.
Trata-se de uma aula aberta para o público, da disciplina Sistemas de Accountability, sob a realização da DAP/ Disciplina Sistemas de Accountability, organização de acadêmicos e apoio do projeto Comunidade de Práticas (PRAPEG).
COMBATE À CORRUPÇÃO: O FUTURO É AGORA
Dia: 15 de Abril; Terça – Feira
Av. Me. Benvenuta, 2007 – Santa Monica, Florianópolis – SC
O Legislativo tem um papel fundamental na sociedade que exige qualificação e transparência de suas ações. Seu papel de fiscalizador da gestão pública conta com a participação e colaboração, não apenas de órgãos de controle, mas da sociedade como um todo.
O evento é uma iniciativa da Escola de Gestão e Eficiência Legislativa – EGEL em parceria com o Grupo de Pesquisa Politeia da Esag Udesc e contará com a participação de diversas instituições e sociedade civil.
A iniciativa parte de uma agenda de discussões e ações em torno de temas como coprodução do controle, transparência e accountability com o objetivo de construir pontes entre administração pública, universidade e sociedade.
LEGISLATIVO, TRANSPARÊNCIA E GOVERNANÇA COLABORATIVA: como o cidadão participa com o legislativo no controle da gestão pública?
Por Rodolfo Macedo do Prado, Débora Cristina Machado Regio e Raphael Mendonça Barros Silva *
O whistleblowing, um instrumento de combate à corrupção que estimula o cumprimento da lei, promove a participação direta do cidadão no auxílio aos órgãos de controle interno e externo, especialmente na descoberta de ilícitos. O mesmo visa receber denúncias feitas por cidadãos comuns, protegendo-os e recompensando-os por isso. (Saiba mais sobre o Whistleblowing)
No
Brasil, especialmente depois da deflagração da denominada “Operação Lava Jato”,
nunca se falou tanto em combate à corrupção e na utilização de mecanismos e
instrumentos jurídicos para tanto.
O
instrumento aqui apresentado ainda não é utilizado no Brasil, o que nos faz
refletir: será que apenas a repressão à corrupção já instalada e
institucionalizada é capaz de resolver ou amenizar o desvio de verbas públicas
e o interesse privado em detrimento do público? Seria hora de investirmos mais em
instrumentos de prevenção dentro da gestão pública?
O controle da Administração Pública, por meio de mecanismos próprios, que podem envolver órgãos públicos ou privados, a fim de garantir mais transparência, melhor gestão, mais responsabilidade e responsividade dos agentes públicos, está carente de instrumentos jurídicos para seu auxílio.
Se, de
um lado, a Administração Pública busca, através de mecanismos de accountability, trazer mais
transparência, responsabilidade, responsividade e melhor gestão da coisa
pública, trazendo consigo o cidadão na coprodução de controle, o Direito busca
a tutela de princípios constitucionais como a legalidade, a impessoalidade, a
moralidade, a publicidade e a eficiência.
Juntos,
possibilitam o combate à corrupção endêmica e institucionalizada que percebemos
após a deflagração de uma série de megaoperações policiais que escandalizaram o
país, derrubaram Presidentes da República e expuseram o que há de pior dos
agentes públicos.
Quanto
ao combate à corrupção, sem a participação do cidadão (o agente de mudança), não
haverá chance de vitória ou mesmo de diminuir a alarmante sensação de
impunidade que se apresenta hoje no Brasil. Um dos grandes instrumentos para
expor tal situação é o whistleblowing,
um instituto anglo-saxão semelhante à colaboração premiada, mas voltado ao
cidadão que nada tem de relação com a prática de crimes. É, ainda, garantida
uma recompensa em dinheiro e um extenso rol de garantias de ordem pessoal –
como a integridade física, psicológica, laboral e financeira -, auxilia os
órgãos de controle, denunciando a prática de ilícitos e apresentando provas.
Nos Estados Unidos, onde já foram recuperados mais de 26 bilhões de dólares outrora desviados e/ou recebidos de forma ilícita, os cidadãos já se utilizam do sistema de forma ampla e irrestrita, o que foi possível por 7 fatores principais: 1 • a mudança na burocracia governamental; 2 • leis encorajando as denúncias; 3 • leis que protegem os denunciantes; 4 • a mídia e os novos suportes organizacionais, como entidades não governamentais; 5 • existência institucional dos pesos e contrapesos; 6 • valores culturais do povo norte-americano; 7 • o “onze de setembro”.
O
Direito, pura e simplesmente, não dá conta do combate apenas pelos meios e
instrumentos triviais. A Administração Pública, por seu turno, também não
consegue, por si só, “estancar a sangria”.
A
solução aqui apresentada é o diálogo entre a transparência, responsabilidade,
coprodução de controle e os instrumentos jurídicos de combate à corrupção
(delação premiada, acordo de leniência, whistleblowing,
perda alargada, compliance anticorrupção,
etc.), para que se previna e se puna no
âmbito da Administração Pública e, caso necessário, se reprima através de
instrumentos jurídicos pertinentes no campo do Direito.
Em
recentes manifestações, os Ministros de Estado da Casa Civil, Economia e
Justiça defenderam a regulamentação do whistleblowing
no Brasil, o que pode indicar que se está próximo da importação do instituto
(para mais informações, veja em https://consultorpenal.com.br/sobre-moro-onyx-guedes-e-o-whistleblowing-no-brasil/). Aliás,
o Ministro Sérgio Moro incluiu a regulamentação do whistleblowing em seu “Projeto de Lei Anticrime”, mas que ainda
peca muito na técnica legislativa.
Muito se faz para combater a corrupção, mas será que é o suficiente? Será que a administração pública sozinha consegue dar conta de solucionar tal problema?
Sem o cidadão capacitado e amparado pela lei, o combate à corrupção está fadado ao fracasso. Para que tais mudanças ocorram, é necessário que a Administração Pública, o Direito e a Cidadania caminhem lado a lado, a fim de promover o bem-estar de todos e garantir que o certo prevaleça.
A seguir, entrevista sobre o tema com o advogado e estudante de administração pública Rodolfo Macedo do Prado, especialista em Direito Penal Econômico.
*Texto elaborado pelos acadêmicos de administração pública Rodolfo Macedo do Prado (rodolfoprado91@gmail.com), Débora Cristina Machado Regio e Raphael Mendonça Barros Silva, no âmbito da disciplina Sistemas de Accountability, da Udesc Esag, ministrada pela Professora Paula Chies Schommer, no segundo semestre de 2018.