Accountability na Saúde Pública: mecanismos de controle social no SUS, quais são e o que se pode esperar?

Por Tamires da Rosa e Rafael Bertoncini Goulart*

 A criação do Sistema Único de Saúde, o SUS, teve origem na década de 1970, quando surgiram diversos movimentos populares, dentre estes, na área de saúde, o Movimento da Reforma Sanitária. Este buscava mudanças e transformações do setor saúde, pressupondo a democratização. Apresentando essa premissa como base, o Movimento cresce nos anos de 1980 e passa a formular alternativas à política de saúde.

Nesse processo, o momento crucial para a criação do Sistema Único de Saúde foi a 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986. Nessa Conferência, diferentemente das anteriores, houve uma ampla participação dos setores organizados na sociedade civil, como profissionais da saúde, parlamentares, intelectuais, entre outros profissionais preocupados com a saúde pública.

As resoluções e propostas apresentadas em 1986 embasaram as formulações do Sistema Único de Saúde, que foi oficializado na Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. A partir de então, a saúde passou a ser direito de todos e dever do Estado, regida pelos princípios de universalização, descentralização e participação social.

Segundo Correia (2005, p.62), a participação cidadã no SUS, na perspectiva do controle social, foi um dos eixos da 8ª Conferência. No relatório da mesma, se definiu participação em saúde como o conjunto de intervenções que as diferentes forças sociais realizam para influenciar a formulação, a execução e a avaliação das políticas públicas para o setor de saúde.

De lá para cá, o setor saúde vem desenvolvendo diversos canais e meios que favorecem a participação e o controle compartilhado entre usuários e profissionais. Ao aprimorar as políticas na área de saúde, a qualidade dos serviços e o uso dos recursos públicos, ainda que haja muitos desafios, essas práticas mostram resultado e são referência para outras áreas da administração pública.

Para se obter melhores resultados e uso eficiente de recursos, além da autonomia e qualificação dos gestores públicos, é fundamental instituir processos de accountability em relação às decisões tomadas e aos resultados obtidos. Entre os instrumentos utilizados para se obter o controle social na política de saúde pública, estão os Conselhos de Saúde e as Conferências de Saúde.

Com relação a esses instrumentos, o profissional da área de saúde pública, Paulo Sergio, que atuou como diretor de vigilância epidemiológica no município de São José, comentou sobre os mecanismos em entrevista na Rádio Udesc (ouvir entrevista completa). O entrevistado informou que esses mecanismos foram criados pela Lei 8.142/90, tendo o Conselho um caráter permanente e deliberativo no que diz respeito à execução dos aspectos econômicos e financeiros, além de ter a função de exercer o controle social com o objetivo de garantir o atendimento aos interesses da maioria da população. Já a Conferência, que acontece a cada 4 anos, com representação dos vários segmentos sociais, serve para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis correspondentes. É convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, pelo Conselho de Saúde.

Além desses dois meios de controle social previstos pelo SUS, Paulo Sergio explicou que existem mais dois importantes mecanismos de participação que contribuem para o acompanhamento do controle e da fiscalização das ações e dos recursos financeiros gastos na política de saúde. O primeiro destacado são as Ouvidorias.

Segundo informações do Governo Federal, em 2004, através da promulgação da Emenda Constitucional nº 45, ficou determinado a criação de Ouvidorias no Poder Judiciário e no Ministério Público no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Territórios. Portanto, com o processo de ampliação dos espaços de participação, a Ouvidoria passou a estar presente nos três poderes da Nação, também nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios, e vem consolidando-se como instância de controle e participação social, destinada ao aprimoramento da gestão pública.

Paulo Sergio destacou que o propósito da Ouvidoria é oportunizar um canal para que a população possa registrar sugestões, reclamações, denúncias e solicitar demandas ao gestor municipal, sendo um mecanismo formal que dá segurança para o usuário se manifestar ao órgão público. Além disso, garante um protocolo para acompanhamento e o direito ao anonimato. Os contatos podem ser realizados de forma presencial, via telefone e/ou via site.

O segundo canal destacado pelo entrevistado são os Observatórios Sociais. Contou que estes são espaços para o exercício da cidadania, reunindo pessoas da sociedade civil que, juntas, buscam respostas junto ao poder público para demandas dos cidadãos. O Sistema OSB é formado por entidades representativas da sociedade civil e voluntários engajados com o objetivo de contribuir para uma gestão pública com transparência, eficiência, eficácia e efetividade, segundo o site oficial da organização. Também de acordo com informações disponíveis no site, dos 147 observatórios ligados ao Sistema OSB, 27 estão em cidades catarinenses. De acordo com o presidente do sistema em Santa Catarina, Leomir Minozzo, o objetivo é desenvolver a cultura da participação cidadã e ser referência no controle de gastos públicos.

Um dos observatórios catarinenses que vem ganhando notoriedade é o Observatório Social de São José, buscando combater desperdícios excessos e desvios de dinheiro público, ao monitorar gastos e demandar transparência, assim contribuindo para economizar dinheiro público.

Além dos mecanismos citados, podem existir outros meios, como os instrumentos de contratualização de resultados, mecanismo que promove a accountability alinhada à chamada Nova Gestão Pública. São ferramentas que buscam promover o aumento da eficiência e efetividade dos serviços públicos, além da transparência e do controle social (BERNARDO, 2011).

A provisão de serviços públicos em parceria entre os governos e as organizações sociais (OSs), entidades públicas não estatais, é um dos exemplos de flexibilização da administração pública que demanda mecanismos específicos de accountability. Como exemplo, destacamos o caso do governo de São Paulo, que por meio de um contrato de gestão, o Estado repassa a entes públicos não estatais a provisão de serviços não exclusivos. Cabe à máquina estatal a regulação e o financiamento básico desse processo (SANO e ABRUCIO, 2008). Em estudo realizado por Sano e Abrucio em 2008, os avanços de gestão das OS da Saúde em São Paulo foram evidenciados por dados referentes à eficácia e eficiência dos gastos públicos e à área de recursos humanos, ainda mais quando comparados ao desempenho dos hospitais estatais paulistas. Entretanto, ressaltaram que os instrumentos de accountability foram pouco utilizados.

De acordo com as premissas do SUS, na perspectiva do controle social, a ampliação da accountability têm contribuído para a redução de práticas clientelistas e para a maior adequação das ações às necessidades da população. O aperfeiçoamento desse sistema, principalmente, no que diz respeito à publicização do que é público e da participação, devem ser contínuos, fortalecendo o exercício do controle social sobre a política de saúde.

Portanto, é importante enfatizar que os instrumentos de controle social, além de conquistas, também são processos de aprendizagem a serem fortalecidos com a participação social nos mais diversos meios e mecanismos, tanto no âmbito do público, quanto do privado. Assim, espera-se que o aumento do controle sobre o poder público possa gerar dois grandes efeitos – a responsabilização que reduz as chances ou permite corrigir erros dos governantes e seus parceiros e, quando for o caso, levar à punição dos responsáveis e; pela existência de múltiplos e ininterruptos instrumentos de accountability, gere-se aprendizagem a cidadãos e policymakers, sejam eles os políticos, sejam os burocratas (SANO e ABRUCIO, 2008).

Referências

A história da saúde pública no Brasil. Intérpretes: Paulo Sérgio. 2018. (7 min.), son., color. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yuDpa-nU3t8&t=45s>. Acesso em: 13 jun. 2019.

SANO, Hironobu; ABRUCIO, Fernando Luiz. Promessas e resultados da Nova Gestão Pública no Brasil: o caso das Organizações Sociais de Saúde em São Paulo. Rev. adm. empres. [online], vol. 48, n.3, pp.64-80, 2008.

Ações do Observatório Social de São José ganham destaque na mídia nacional. 2017. Disponível em: http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2017/11/acoes-do-observatorio-social-de-sao-jose-ganham-destaque-na-midia-nacional-9986365.html. Acesso em: 25 jun. 2019.

BERNARDO, Renata Anício. Instrumentos de contratualização de resultados na administração pública como mecanismo de promoção da accountability. In: CONGRESSO CONSAD DE GESTÃO PÚBLICA, 4, 2011, Brasília. Anais… Brasília, 2011.

BRASIL. GOVERNO FEDERAL. História das ouvidorias: Como surgiram as ouvidorias?. Disponível em: <http://ouvidorias.gov.br/cidadao/conheca-a-ouvidoria/historia-das-ouvidorias>. Acesso em: 12 jun. 2019.

CORREIA, Maria Valéria Costa. Desafios para o controle social subsídios para capacitação de conselheiros de saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005.

LAMBRANHO, Lúcio. O voluntário que faz uma cidade economizar milhões por ano. 2016. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-37526368. Acesso em: 25 jun. 2019.

O QUE é o SUS? Sistema Único de Saúde do Brasil: Princípios e diretrizes. Intérpretes: Paulo Sérgio. 2018. (8 min.), son., color. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2fpRaU8VkIE&t=349s>. Acesso em: 12 jun. 2019.

OBSERVATÓRIO SOCIAL DO BRASIL (Brasil). O que é um Observatório Social? Disponível em: <http://osbrasil.org.br/>. Acesso em: 14 jun. 2019.

 

*Texto elaborado pelos acadêmicos de Administração Pública Tamires da Rosa (tamiresdarosa.e@gmail.com) e Rafael Bertoncini Goulart (rafaelbertoncini@hotmail.com), no âmbito da disciplina Sistemas de Accountability, da Udesc Esag, ministrada pela Professora Paula Chies Schommer, no primeiro semestre de 2019.

I Congresso de Direito à Cidade de Santa Catarina em Dezembro

Nos dias 9 e 10 de Dezembro o auditório da Alesc irá receber o I CONGRESSO DE DIREITO À CIDADE DE SANTA CATARINA, que é promovido pelo IGENTES – INSTITUTO GENTES DO DIREITO, com o apoio do INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO URBANÍSTICO – IBDU, do CAU/SC – CONSELHO DE ARQUITETURA E URBANISMO DE SC.

Serão discutidos temas como: função social da propriedade urbana, direito à cidade, direito à moradia, estatuto da cidade, investimentos públicos na cidade, regularização fundiária urbana, ações possessórias coletivas no CPC, ZEIS e áreas urbanas consolidadas, ATHIS – lei da assistência técnica de habitação social, papel da defensoria pública nas ações coletivas, segurança pública x moradia, mobilidade e acessibilidade – cidade para todos/as, experiências de regularização fundiária urbana em SC.

As inscrições são gratuitas. Para mais informações, acesse:https://www.eventbrite.com.br/e/i-congresso-de-direito-a-cidade-de-santa-catarina-tickets-79135549559

Seminários Regionais de Ouvidoria ocorrerão dias 28 e 29 de Novembro em Florianópolis

Nos dias 28 e 29 de novembro, a cidade de Florianópolis receberá o evento Seminários Regionais de Ouvidoria promovido pela Controladoria-Geral de União, em parceria com a Controladoria-Geral do Estado de Santa Catarina. E na mesma semana será promovido o Curso Profoco Tratamento de Denúncias entre os dias 25 a 27 de novembro. O local que as atividades se realizarão será o Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina – Rua Bulcão Viana, 90 – Centro.

Mais informações: http://www.ouvidorias.gov.br/ouvidorias/eventos/seminario-regional-de-ouvidoria-florianopolis/inscricoes

Politeia convida: Democracia e Gestão Pública: Relações entre processo eleitoral, controle e sociedade

No próximo dia 29(terça-feira) às 10 horas vai ocorrer no auditório da Udesc Esag a aula aberta: “Democracia e Gestão Pública: Relações entre processo eleitoral, controle e sociedade”. A mediadora da aula aberta será a professora Paula Shommer que receberá os convidados Cibelly Farias(Procuradora Geral de Contas de Santa Catarina), Rafael Tachini Melo(mestrando em Administração Udesc Esag) e Marco Antonio Carvalho Teixeira (Cientista Político e Professor de Administração Pública – EASP/FGV). E ainda no período vespertino vai acontecer a defesa do mestrado acadêmico com o tema: “O Plano Diretor como instrumento de accountability democrática e sua observância no orçamento municipal” do mestrando Rafael Tachini Melo. O local da defesa será na sala 8 da Udesc Esag às 14 horas. Não deixe de participar!

II Congresso de Administração Tributária: Transparência, Desenvolvimento e Sustentabilidade – 22 e 23 de Outubro – Florianópolis

Em sua segunda edição, o Congresso de Administração Tributária tem por objetivo promover o aprimoramento da Administração Tributária sob a ótica da transparência, do desenvolvimento e da sustentabilidade, construindo conhecimento com os agentes públicos e políticos e os diversos atores sociais em Santa Catarina.

O evento é voltado para servidores públicos, acadêmicos, lideranças políticas e comunitárias, profissionais liberais e público em geral, contando com palestras, painéis e caso nacionais e internacionais.

Confira a programação abaixo:

Realização:

Secretaria de Estado da Fazenda (SEF), Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (ALESC), por meio da Escola do Legislativo; Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), por meio do Centro de Ciências da Administração e Socioeconômico (ESAG); Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) e Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Mais detalhes em: https://www.udesc.br/congresso_de_administracao_tributari…

Inscrições: http://escola.alesc.sc.gov.br/evento/?eid=1667

Vencedores do Prêmio de Boas Práticas em Gestão Pública participam de intercâmbio em São Paulo

Sendo lançado em 2015, o Prêmio de Boas Práticas em Gestão Pública é realizado a cada dois anos. Sua primeira edição teve como tema “Transparência com cidadania”, com três modalidades: Educação em Transparência Pública; Tecnologias de Informação para Transparência; e Qualidade na Gestão Pública. As propostas foram submetidas em categorias: Municipal, Estadual, Federal, Organizações da Sociedade Civil e Empresas e Profissionais Autônomos. Na primeira edição do Prêmio, em 2016, foram inscritas 31 práticas, das quais 21 foram qualificadas como boas práticas na temática da transparência com cidadania. Na segunda edição, em 2018, contou com 49 práticas inscritas e 35 qualificadas como boas práticas no mesmo tema.

A segunda edição do Prêmio, organizado pela UDESC ESAG, contou com vencedores em todas as categorias sobre transparência com cidadania. O vencedor geral foi o caso “Sistema Gerencial de Saúde Pública – Pronto” da Prefeitura Municipal de Blumenau.

Como parte da premiação, os vencedores participaram, nos dias 8 à 10 de Outubro, de um intercâmbio em São Paulo com o objetivo de promover trocas de experiência entre os gestores dos estados de Santa Catarina e São Paulo – Conexão SC-SP.

O evento de intercâmbio foi realizado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc Esag), em parceria com a Prefeitura de São Paulo/Secretaria de Inovação e Tecnologia, a Fundação Getulio Vargas (FGV Eaesp Ceapg) e a
Universidade de São Paulo (USP-Each), como parte da premiação aos
vencedores do Prêmio de Boas Práticas em Gestão Pública Udesc Esag –
edição 2018.

O evento ocorreu na Fundação Getúlio Vargas , com uma comitiva composta por 16 gestores de diferentes organizações. As atividades foram divididas entre palestras, visitas em órgãos da Prefeitura de SP e duas mesas de debates. 

As professoras Paula Chies Schommer e Sulivan Desirée Fischer, conduziram as visitas técnicas em momentos de muita aprendizagem sobre métodos/instrumentos/tecnologias e sobre a essência do serviço público e da cidadania.

Conheça o Prêmio de Boas Práticas – acesse aqui

A Lista geral dos vencedores da edição 2018 encontra-se aqui

A próxima edição do Prêmio de Boas Práticas ocorrerá em 2020. Em breve mais informações no site.

Nas Entrelinhas: confira a entrevista dos candidatos à Reitoria da UDESC.

No dia 16 de outubro, das 9h às 21h, acontecerá o primeiro turno das eleições à reitoria da UDESC para o período de 2020 até 2024.

As duas chapas inscritas são a “Juntos pela UDESC”, que conta com o candidato Emerson César de Campos e vice Cintia Aguiar, e a chapa “Vamos adiante UDESC” composta pelo candidato Dilmar Baretta e vice Luiz Antonio Ferreira Coelho.

Na última terça-feira, dia 08/10/19, os convidados concederem entrevista ao programa Nas Entrelinhas da Rádio UDESC, respondendo perguntas sobre às propostas de gestão.

Confira abaixo a entrevista para a eleição:

Para mais informações sobre as propostas de cada candidato, acesse o site da comissão eleitoral da UDESC.

Outras entrevistas do programa Nas Entrelinhas estão disponíveis aqui